A escolha é sua

09:06 Angela Fakir 1 Comments


Estava conversando dia desses com uma amiga sobre o fato de a impunidade relacionada aos crimes de pedófilos ser uma constante, embora as pessoas quase em sua totalidade se sintam  verdadeiramente indignadas com a violência e exploração sexual infantil. A meu ver, isso é reflexo de um aspecto muito cruel presente nos casos desse tipo de violência que é o envolvimento de familiares.
A idéia de que um pedófilo irá molestar uma criança desconhecida em um local publico é dissonante com a realidade. Não digo que não aconteça, mas certamente  isso é uma exceção. Crianças e adolescentes podem se expor de maneira muito perigosa a criminosos que fazem uso das ferramentas de comunicação da internet, apesar de estarem aparentemente protegidos no interior de suas casa. Outro aspecto muito presente, é quando o agressor é alguém da família ou pessoa que age com o consentimento de familiares. Sei que para alguns essa realidade pode parecer bastante exagerada ou até mesmo distorcida, mas infelizmente não é.
Esse talvez seja o principal fomento da impunidade reinante relativa a Pedofilia. Quando o agressor é um pai, um avô, um tio ou qualquer outra pessoa que se encontre inserida no cotidiano familiar, ligada por relações de fortes vínculos emocionais, imaginem o quão difícil se torna o ato de denunciar, e quantas e complexas ligações há que se romper para que a denúncia ocorra.  Quando o agressor não é necessariamente da família, mas molesta a criança com o consentimento de algum familiar é tanto ou mais difícil se alcançar a denuncia e consequente cessação da violência, pois nesse caso os que deveriam proteger a criança são os que se beneficiam financeiramente dessa violência. Em ambas as situações não se pode esperar que venha da criança a voz que irá denunciar essa violência.
 Crianças que sofrem abusos sexuais geralmente não tocam no assunto com  ninguém. Elas se encontram atadas por amarras feitas de constrangimento, confusão, medo e dor. Elas são como seres amputados, privadas de ação e voz, não podem fugir, não conseguem falar. Por tanto, essa é uma situação que só pode ser enfrentada através das ações de outros que não a própria vítima e, dependendo do envolvimento e da dinâmica familiar presente, tampouco dos seus familiares.
 Nenhuma mudança efetiva irá acontecer, enquanto houver o entendimento de que a violência e exploração sexual infantil é um problema que deve ser resolvido na esfera doméstica. Cabe a cada um de nós optarmos pela omissão ou pela denuncia. 
Podemos ser construtores de uma sociedade onde crianças possam desenvolverem-se livres de todo sofrimento que esse tipo de violência gera ou sermos inertes como um tijolo nesse muro de silêncio e impunidade que protege o agressor. A escolha entre ser a pessoa que ignora essa realidade e por sua ausência contribui para sua manutenção ou aquela que age no sentido de mudá-la é nossa.
E você, que pessoa vai ser?

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Um comentário :

  1. Em bairros do subúrbio a pedofilia é uma constante... A impunidade do molestador, em sua maioria, é propiciada pela família que o ajuda a fugir e se esconder, em muitos casos, por conta da raiva da massa que fica sabendo. No entanto, após alguns meses, ele retorna e, se um cidadão comum acaba literalmente com o molestador, quem acaba punido? A maioria das pessoas acaba entretida com a Tv, com o que chamam de música e esquecem do que aconteceu, inclusive o cuprimentam nas ruas... Apenas a criança é que fica com as cicatrizes, os traumas e o medo...

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