Pedofilia e Homossexualidade - Removendo um véu de ignorância.

20:00 Koran-Hun 2 Comments


Não é raro que em nossos debates e estudos, pessoas acabem associando a pedofilia à homossexualidade. Muito disso é motivado por escândalos envolvendo padres e a igreja católica, mas não podemos ignorar um fato relevante para essa discussão: Vivemos numa sociedade preconceituosa e desinformada, e enquanto for assim, haverá associação entre características moralmente condenadas, ainda que racionalmente elas não façam sentido.

Nesta semana, o senador Magno Malta (PR-ES) trouxe o assunto novamente à tona ao dizer que "todo travesti é vítima de pedofilia". O senador foi muito infeliz em sua declaração, que contraria a realidade estatística e científica do fenômeno, e ainda completou:

"Quando a gente encontra um jovem travesti, com certeza é uma vítima da pedofilia. A criança abusada pode virar um abusador e começa uma geração de pedófilos. Pedofilia não é propriamente homossexualismo, mas conduz para a mesma prática"

Parecesse já absurdo o suficiente, continuou:

"A pedofilia causa verdadeiramente a desintegração da sociedade criando uma geração de homossexuais, transexuais, casais de lésbicas, gays e milhares de travestis, gerando um grande universo de prostituição e desvio de conduta"

Devemos olhar com muito cuidado para essas declarações, ainda mais vindas de alguém que posa ao lado de Dilma Rousseff com a camiseta da campanha "Todos contra a Pedofilia".

Primeiramente, é necessário esclarecer que a orientação sexual (eixo homo/hetero/bi) se dá a partir da interação do indivíduo (biológico) com o meio (social). A homossexualidade não é um "desvio" de conduta, mas sim uma das possíveis variações dessa característica na espécie. Isso já é consenso entre médicos, psicólogos, biólogos e psiquiatras há décadas.

Em segundo lugar, transgêneros, transexuais e travestis não são orientações sexuais. São questões de identidade de gênero, mais complexas, que nunca foram comprovadas estarem relacionadas a traumas ou abusos na infância. Essa leitura só não é mais preconceituosa que a suposição de que estes se tornarão os abusadores de amanhã.

Para compreender o tamanho da contradição ideológica dessas afirmações, vamos olhar com calma para as estatísticas.

Segundo a 1ª Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal (pesquisa de 2010, elaborada pelo Centro de Referência para Violência Sexual - CEREVS), quase 80% das crianças e adolescentes abusadas sexualmente por homens adultos são do sexo feminino, o que repetiu o padrão observado em 2009.

Ainda, a raiz do problema é iminentemente familiar. Entre os abusadores, 34% são os padrastos das vítimas, e 22% os próprios pais. Isso é confirmado pela localidade onde ocorre maior incidência desses abusos: 52% na residência da vítima, 29% na residência do autor (geralmente quando as crianças visitam seus pais), conforme apresenta a publicação do portal do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

A parafilia não escolhe sexo, gênero ou orientação sexual. Contudo, o paradigma apresentado pelo senador, e que infelizmente sabemos estar presente nas concepções de boa parte das pessoas, não se sustenta em fatos, mas em preconceitos.

O núcleo de combate à pedofilia deveria parar de sentar em cima do próprio rabo se pretende encarar o problema com seriedade. Para isso, vai precisar abrir portas e janelas disso que chamam "família tradicional".

=====
Fontes:
1. [SidneyRezende] ; 2. [CNJ] ; 3. [DráuzioVarella]

Notícias Relacionadas

2 comentários :