Causas da exploração sexual

07:30 Angela Fakir 0 Comments






Transcrito da obra “Guia de referência – Construindo uma cultura de prevenção à violência sexual “ (*1) , o texto que segue expõe de forma sucinta os motivos que contribuem para a existência e manutenção de  exploração sexual infanto-juvenil em nosso país. Nós estamos disponibilizando essas informações aqui no intuito de promover uma reflexão a respeito desse tema, ao se pensar as causa de tais práticas, frequentemente o fazemos de forma superficial a partir da visão limitada do aspecto financeiro. É incontestável que o fator econômico é determinante nessa realidade, no entanto, é necessário para a compreensão ampla dessa questão estendermos nossa visão para as engrenagens sócio- culturais que a constroem. Entender  que milhares de meninas e meninos estão sendo explorados sexualmente cada vez mais cedo simplesmente por que alguém lucra com isso sem pensar em como o fato de estarmos inseridos em uma sociedade de consumo que transforma a aquisição de bens de consumo e serviços como único meio para o bem estar do individuo dispondo o poder aquisitivo acima de qualquer princípio   influencia a existência dessa realidade, não nos levará a produzir as mudanças necessárias ao enfrentamento desse mal.




Causas da exploração sexual

A maior parte das explicações das causas da exploração sexual é, na realidade, uma tentativa de encontrar respostas quanto aos motivos de certas pessoas para se engajarem nesse tipo de atividade. Considerando apenas esse aspecto, teremos uma resposta parcial, e, mais uma vez, o assunto ficará centrado no indivíduo que oferece os serviços sexuais. Vários segmentos sociais costumavam conceituar a prostituição como um desvio de caráter ou personalidade, mas hoje vários estudos concordam com a leitura de que tal fenômeno é provocado por um conjunto de fatores sociais, econômicos, culturais, entre outros. É importante destacar que existem divergências em relação aos fatores mais determinantes. Nos países latino-americanos, constata-se uma tendência  de considerar esse envolvimento como sendo resultante de pobreza. Nos países desenvolvidos, como sendo resultante de opção.9
Os pontos de vista também diferem quando se trata de exploração sexual infanto-juvenil ou prostituição adulta. Assim, enquanto para muitas mulheres adultas a prostituição é uma opção profissional, ainda que mobilizada pela necessidade de sobrevivência, os meninos e meninas são conduzidos à prática da
prostituição pela pobreza.
Aqui queremos contribuir para desconstruir essa associação mecânica entre pobreza e exploração sexual infanto-juvenil. Esse argumento não resiste a uma simples pergunta: “Por que um imenso contingente de meninas pobres não se envolve em prostituição e encontra outras formas de sobreviver, sem se submeter
docilmente à sua utilização econômica?” (SANTOS, B. R. dos, 1996). Por outro lado, o caso de meninas e meninos de classe média que se envolvem em prostituição por razões de consumo de drogas ou outros artigos de consumo parece também contrariar a pobreza como fator determinante exclusivo.
Desconstruir a associação mecânica entre pobreza e mercado sexual não significa negar os fatores econômicos que “determinam” de certa maneira a existência desse mercado. Essa questão deve ser abordada na sua complexidade, pois se trata de um conjunto de aspectos que, combinados em dada família, cidade ou país, provocam ou conduzem determinadas pessoas para esse tipo de atividade.


Conflitos culturais e outras situações familiares

Existem casos de adolescentes que são estimulados ou mesmo forçados pelos familiares a oferecer serviços sexuais. No entanto, sem estatísticas disponíveis, baseando-se somente na experiência, sabe-se que o número de casos é bastante baixo. Uma significativa porcentagem de adolescentes participantes do mercado sexual vive situações conflituosas com familiares e muitos deles moram fora de casa. Conflitos familiares não resolvidos, violência doméstica ou negligência dos pais e familiares e choque de valores levam muitos pais a excluírem e mesmo expulsarem seus filhos de casa.

Estratégia de sobrevivência e inclusão na “sociedade”
(de consumo)

Crianças e adolescentes foram levados a viver em uma condição de dependência dos pais ou do Estado. Eles não podem trabalhar até a idade de 16 anos ou assinar atos civis que garantam morar e viver legalmente na sociedade. Quando as crianças e adolescentes não podem ou não querem viver com a família ou, ainda, a família não tem condições de alimentar suas necessidades, a venda de sexo pode se transformar numa opção ilícita de sobrevivência para a realização dos seus desejos de consumo. Assim, o trabalho sexual se transforma em uma maneira de ganhar autonomia em relação à família, adquirir bens e serviços que lhes confiram status social ou simplesmente adquirir drogas.

A omissão ou insuficiência das políticas sociais públicas

Isso também pode levar os adolescentes a se engajar no mercado do sexo. Por exemplo, a falta ou insuficiência de programas de orientação sociofamiliar ou de apoio financeiro às famílias que vivem em situação de risco. A falta de empregos dignos para jovens, a baixa qualidade dos serviços existentes para
adolescentes que têm de viver em lares substitutos ou sob a custódia do governo, a impossibilidade de suprir crianças e adolescentes com o chamado supérfluo ou mesmo a violência institucional também influenciam essa opção.

Os motivos das redes de exploradores

A exploração comercial de crianças e adolescentes tornou-se um negócio complexo e lucrativo. Os diversos segmentos sociais que compõem as redes de exploração, muitas vezes nem tão clandestinas como se poderia supor, são motoristas de táxi, donos e funcionários de hotéis, motéis e quartos subalugados, gigolôs e cafetinas, vendedores de roupas e de cosméticos, traficantes, doleiros e policiais corruptos.

A omissão ou insuficiência da legislação

Permeando todas as partes envolvidas está a dificuldade de normatizar e de fiscalizar o cumprimento da legislação e sua aplicação por parte das autoridades e da população em geral. Esse conjunto de fatores leva à impunidade daqueles que abusam ou exploram sexualmente as crianças e os adolescentes.Ela faz com que perdure a violação sistemática aos direitos da criança e do adolescente.
Os valores éticos e as concepções sobre a infância estão na base do  comportamento social em relação à exploração sexual. Considerando isso, é importante afirmar que muitas crianças ou adolescentes em situação de risco social não aceitam o trabalho sexual como opção de sobrevivência, muitos clientes de prostituição não aceitam ou não desejam ter relação com crianças e adolescentes, assim como a postura de legisladores e de governantes é determinante na priorização de ações e investimentos no enfrentamento da exploração sexual.



*1- Guia de referência - Construindo uma Cultura de Prevenção à Violência Sexual / Childhood Brasil (Instituto WCF-Brasil)



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