Sistema de desvinculo

12:36 Angela Fakir 0 Comments




"Um sistema de desvinculo: Boi sozinho se lambe melhor..,
 O próximo, o outro, não é seu irmão, nem seu amante. O outro é um competidor, um inimigo, um obstáculo a ser vencido ou uma coisa a ser usada. O sistema, que não dá de comer, tampouco dá de amar: condena muitos à fome de pão e muitos mais à fome de abraços." 
Eduardo Galeano

    Vivemos em um mundo onde o desejo suplanta a necessidade e a moeda suplanta a quase tudo, isso faz com que pareça legítimo que o desejo de comer em fina porcelana seja satisfeito por quem possa adquirir a louça enquanto a fome de muitos continua a magoar lhes as vísceras. Assim, estamos vendo surgir e efetivar-se em quase todas as culturas atuais um processo de mercantilização da vida que transforma tudo em comércio à medida que cria produtos e/ou serviços que prometem a satisfação de todos os desejos e necessidades reais ou inventadas que possamos ter. E, dessa maneira, divide-se a população humana entre aqueles que podem pagar e os que vivem escravizados pela possibilidade de um dia eles também serem compradores. Passamos pela vida, muitas vezes, sem nos darmos conta de que estamos inseridos em um sistema que tem no lucro o seu objetivo principal, e a exploração de pessoas é prática aceitável e fundamental para que se alcance esse objetivo.
Esse arranjo sócio cultural doentio está na base da realidade de sofrimento, exploração e violência sexual que inúmeras crianças vivenciam. Independente da legislação de um país, ou do entendimento que se faça sobre bem e mal, pessoas conseguem obter a satisfação do desejo sexual que sentem por corpos infantis, tornar isso prática de sexualidade sem se importar com os danos que isso causa ao desenvolvimento e integridade dessas crianças e ficar impunes se puderem pagar por isso. Isso acontece por diversos fatores que se relacionam, mas certamente a obtenção de lucro com a exploração sexual infantil contribui intensamente para a existência e manutenção dessa realidade degradante.
Carolina Padilha (*1), coordenadora de Programas da Childhood Brasil do Instituto WFC,  aponta que a idade média das crianças que se prostituem  nas estradas brasileiras é de 12 anos. Mas há casos em que meninos e meninas começam com 8 anos . É notório que o Brasil é rota para turismo sexual  e que o número de crianças sendo exploradas sexualmente por pessoas que entram no país com essa finalidade é alto e que a prática de exploração sexual infantil ocorre em nosso país apesar de constituir prática ilegal e socialmente repudiada. Ricardo Breier(*2)  , afirma que  “Muitos pedófilos buscam zonas de terceiro mundo, onde a fiscalização das autoridades é precária e, em muitos casos, corrupta, o que viabiliza a exploração sexual infantil turística. Segundo dados da Organização Mundial do Turismo (OMT), já no ano de 1996 estimava a cifra de 3.552.000 turistas sexuais, com um único objetivo de manter relações sexuais com crianças e/ou adolescentes. Segundo especialistas, não basta perseguir o turista sexual, é necessária a consciência social para uma efetiva proteção às vítimas desta prática reprovável.”
Outra forma de exploração sexual infantil que tem se tornado epidêmica no mundo todo diz respeito a podução e venda de pornografia infantil através da internet, Franciny Roberta Dos Santos(* 3) aponta que : “Tendo como principal meio de divulgação a Internet, a pedofilia movimenta milhões de dólares por ano e expõe milhares de crianças indefesas a abusos que nem mesmo adultos suportariam. Para se ter uma idéia, hoje existem Clubes de Pedofilia! Esses ‘Clubes’ servem para associar pedófilos pelo mundo; onde estes podem adquirir fotos ou vídeos contendo pornografia infantil ou, pior, contratar serviços de exploradores sexuais, fazer turismo sexual ou mesmo efetivar o tráfico de menores e aliciá-los para práticas e abusos sexuais. Este circo de horrores é responsável pelo desaparecimento de crianças no mundo inteiro.”
Comecei esse texto citando o pequeno trecho da obra de Eduardo Galeano por que percebo que embora a maioria das pessoas tenham o entendimento que a violência e exploração sexual infantil seja algo cruel e degradante poucas são as pessoas que fazem algo efetivo para que a realidade de dor e sofrimento a que muitas meninas e meninos estão vivenciando deixe de existir.  Nascer e crescer em uma sociedade que promove o sistema de desvinculo que Galeano se refere tem nos tornados seres desprovidos de empatia pela dor do outro. Somos moldados a não enxergar aquilo que não nos atinge diretamente, ensinados por diversos meios a crer que a miséria alheia acontece por mérito do miserável e não pela forma desigual e injusta que utilizamos os recursos, treinados para sempre encontrar um argumento que culpabilize a vítima(*4) e não o sistema injusto em que todos estamos inseridos, adestrados a aceitar que o lucro permita atrocidades ...
No entanto, não há crença ou adestramento que mude o fato de que a diferença entre a criança que tem seu corpo e sua integridade violados para gerar ganhos financeiros a pessoas que se dispõem a explorá-las e a criança da sua família, que você certamente ama e protege, é uma construção social e por isso pode e deve ser desconstruída. Devemos retirar a venda que nos impede de ver no outro alguém como nós, na criança violentada que estampa o noticiário policial uma criança como nossos filhos, entendermos que para alterar a realidade de violência e exploração sexual que é imposta a tantos temos que nos importar e agir.





veja mais em:
(*2)
(*3)
 REPRESSÃO À PRÁTICA DA PEDOFILIA NA INTERNET-FRANCINY ROBERTA DOS SANTOS
(*4)







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