Pedofilização como prática social contemporânea


* trecho transcrito do artigo "Afinal, quem é mesmo o pedófilo?" de Jane Felipe.

O conceito de pedofilização tem sido por mim utilizado no intuito de pontuar as contradições existentes na sociedade atual, que busca criar leis e sistemas de proteção à infância e adolescência contra a violência/abuso sexual, mas ao mesmo tempo legitima determinadas práticas sociais contemporâneas, seja através da mídia – publicidade, novelas, programas humorísticos –, seja por intermédio de músicas, filmes, etc., onde os corpos infanto-juvenis são acionados de forma extremamente sedutora. São corpos desejáveis que misturam em suas expressões gestos, roupas e falas, modos de ser e de se comportar bastante erotizados.
Estudos divulgados pela Universidade da Califórnia mostram que dois terços dos programas de entretenimento dirigidos a crianças e adolescentes contém piadas pornográficas ou fazem referência a sexo. As propagandas, tanto impressas quanto as veiculadas na TV, se utilizam fartamente do recurso de exibição dos corpos femininos com forte apelo erótico.
Propagandas de cervejas, de carros, de calçados, dentre tantas outras, remetem a idéia de um corpo para o consumo, que pode ser acionado para o deleite de fantasias sexuais, especialmente as masculinas. Como é possível perceber, o corpo erotizado é constantemente colocado em discurso através de diferentes artefatos culturais, produzindo assim o que chamamos de pedagogias da sexualidade. 
Um dos artefatos mais importantes na atualidade que tem ampliado significativamente seu campo de ação no que tange a espetacularização da sexualidade é a música. Enquanto artefatos culturais, as músicas estão a nos dizer uma série de coisas, indicando-nos modos de ser e sentir, constituindo-nos como sujeitos. Elas expressam concepções de mundo de uma época, de uma determinada cultura. Elas evidenciam, entre outras coisas, formas de representar homens e mulheres e suas relações afetivosexuais.
Dessa forma, a música sempre educa e produz conhecimentos. Recentemente, as músicas de estilo funk ganharam destaque nacional, acionando um repertório repleto de referências explícitas ao exercício da sexualidade. Não quero dizer com isso que esse estilo musical tenha inaugurado o tema, pois as músicas, nos seus mais variados estilos e épocas sempre se reportam, de um modo ou de outro, a temas em torno da sexualidade, algumas de forma mais sutil, outras de forma explícita. Não pretendo aqui discutir a questão do ponto de vista moral, mas trazer algumas reflexões acerca das representações de gênero e sexualidade que essas músicas, bem como outros artefatos culturais acionam. Em recente trabalho apresentado por Fernanda Lazzaron – No mundo das “tchuchucas” e “glamurosas”: representações de gênero e sexualidade no funk – foram analisadas quinze músicas desse estilo musical, que vem se constituindo como um dos artefatos culturais mais importantes dos grandes centros urbanos no cenário brasileiro na atualidade. Tais músicas, amplamente veiculadas nas rádios, nos bailes e na TV, fazem muito sucesso entre jovens (e também entre as crianças), de modo que na escola, nos momentos de recreio, é comum vermos grupos de meninas dançando as coreografias dessas músicas.
No caso do funk, as letras se caracterizam pela referência explícita a práticas sexuais, sem rodeios ou sutilezas, remetendo a um mero exercício sexual, onde os órgãos genitais são mencionados, atos sexuais em suas mais variadas formas são proclamados, acompanhadas de coreografias sensuais, que remetem à exibição dos corpos femininos. Trata-se de uma sexualidade explícita, sem pudores, nem rodeios. O amor e a paixão, temas tão recorrentes nas canções de décadas passadas (não significa que hoje as músicas não se refiram a esse tema), cedem lugar ou pelo menos parecem disputar espaço com músicas que proclamam práticas sexuais. Essas músicas, associadas a outras produções da cultura visual, talvez possam acender um interessante debate sobre os limites do que pode ou não ser considerado hoje como erotismo, pornografia e obscenidade. Segundo um radialista entrevistado, o público que mais pede as músicas está na faixa etária dos 10 aos 20 anos.
Outro exemplo no campo da música, e que remete àquilo que venho chamando de pedofilização, pode ser encontrado na música do grupo porto alegrense Bidê ou Balde, intitulada E Porque Não? A letra diz o seguinte:
Eu estou amando
A minha menina
E como eu adoro
Suas pernas fininhas
Eu estou cantando
Pra minha menina
Pra ver se eu convenço
Ela entrar na minha
E por que não?
Teu sangue é igual ao meu
Teu nome fui eu quem deu
Te conheço desde que nasceu
E por que não?
Eu estou adorando
Ver a minha menina
Com algumas colegas
Dela da escolinha
Eu estou apaixonado
Pela minha menina
Ouve o jeito que ela fala
Olha o jeito que ela caminha.
E por que não?
Teu sangue é igual ao meu
Teu nome fui eu quem deu
Te conheço desde que nasceu
E por que não?
Embora os autores da música tenham negado se tratar de uma exaltação ao incesto, uma das formas de pedofilia, levantando a discussão do que pode ou não ser considerado arte e quais os seus limites, é inevitável pensarmos no quanto essa letra produz um conhecimento, bem como a possibilidade desse corpo infantil – da menininha – ser representando como desejável. O incesto, bem como outras formas de pedofilia, remetem à problematização das relações desiguais de poder entre adultos e crianças. Mesmo que, ao serem tocadas (e nem sempre o são de forma violenta), as crianças sintam prazer, elas não têm escolha diante do adulto – pai, tio, avô, mãe – que a coloca numa posição de subordinação, mesmo que utilize palavras carinhosas, mesmo que diga o quanto as amam e isso que estão fazendo é para o bem delas, como costumam referir.
Outro ponto interessante refere-se à estreita relação entre pedofilização e consumo, uma vez que nos contextos atuais, as  crianças têm sido descobertas como consumidoras exigentes, ao mesmo tempo em que se transformam em objetos a serem consumidos, desejados, admirados. É possível observar a grande quantidade de programas de TV que investem cada vez mais em quadros específicos para crianças, onde elas são entrevistadas, cantam, dançam, representam, inspiradas/os quase sempre em astros nacionais e internacionais. As meninas, especialmente, procuram imitar mulheres adultas muito sensuais e, por vezes, os próprios apresentadores do programa se dirigem a elas de modo erotizado, mesmo sendo crianças.
Outra importante dimensão do conceito de pedofilização pode ser encontrada em revistas dirigidas ao público masculino heterossexual, na medida em que as jovens e belas modelos, que aparecem em muitos dos ensaios sensuais e pornográficos veiculados por essas revistas, utilizam-se de elementos do mundo infantil, como bichinhos de pelúcia, roupas de colegial, etc. A própria aparência das modelos (mesmo sendo maiores de idade), remete-nos às feições de meninas pré-adolescentes, associada a essa mistura de ingenuidade e sedução. Nesse movimento, temos, portanto, o consumo dos corpos infantis por um lado, por outro, imagens de mulheres adultas vestidas e posicionadas como menininhas. O que se pode problematizar diante dessas questões, certamente, é um complexo emaranhado discursivo no qual as crianças e os significados da infância se encontram atualmente.
Um aspecto interessante nesse processo é discutir a construção das masculinidades heterossexuais articulando-as ao conceito de pedofilização, visto que há um discurso muito corrente em torno da idéia de que os homens possuem uma sexualidade mais “animalesca”, incontrolável, de certa forma insaciável, como mencionei anteriormente. Tal concepção é muito presente nos casos de estupro, em que o agressor afirma ter sido provocado pela vítima, em função das roupas que ela usava ou de como se comportava. O historiador Georges Vigarello já mostrava o quanto esse argumento era comumente utilizado pelo agressor, mesmo que a vítima tivesse apenas cinco anos de idade.
Poderíamos, então, nos perguntar de que modo estamos construindo esse olhar masculino em torno das menininhas, colocadas como objeto de sedução? Ao disponibilizarmos determinadas imagens das menininhas não estamos construindo apenas um modo de representá-las direcionadas somente para os homens, mas também para as próprias meninas e adolescentes, que vão sendo subjetivadas por essas pedagogias da sexualidade.
Elas aprendem que para serem desejadas, amadas, valorizadas, precisam se comportar de determinada forma, que o poder das mulheres está constantemente referido e atrelado à sua capacidade de sedução, que passa por um belo corpo e a utilização deste como performático.

Sistema de desvinculo




"Um sistema de desvinculo: Boi sozinho se lambe melhor..,
 O próximo, o outro, não é seu irmão, nem seu amante. O outro é um competidor, um inimigo, um obstáculo a ser vencido ou uma coisa a ser usada. O sistema, que não dá de comer, tampouco dá de amar: condena muitos à fome de pão e muitos mais à fome de abraços." 
Eduardo Galeano

    Vivemos em um mundo onde o desejo suplanta a necessidade e a moeda suplanta a quase tudo, isso faz com que pareça legítimo que o desejo de comer em fina porcelana seja satisfeito por quem possa adquirir a louça enquanto a fome de muitos continua a magoar lhes as vísceras. Assim, estamos vendo surgir e efetivar-se em quase todas as culturas atuais um processo de mercantilização da vida que transforma tudo em comércio à medida que cria produtos e/ou serviços que prometem a satisfação de todos os desejos e necessidades reais ou inventadas que possamos ter. E, dessa maneira, divide-se a população humana entre aqueles que podem pagar e os que vivem escravizados pela possibilidade de um dia eles também serem compradores. Passamos pela vida, muitas vezes, sem nos darmos conta de que estamos inseridos em um sistema que tem no lucro o seu objetivo principal, e a exploração de pessoas é prática aceitável e fundamental para que se alcance esse objetivo.
Esse arranjo sócio cultural doentio está na base da realidade de sofrimento, exploração e violência sexual que inúmeras crianças vivenciam. Independente da legislação de um país, ou do entendimento que se faça sobre bem e mal, pessoas conseguem obter a satisfação do desejo sexual que sentem por corpos infantis, tornar isso prática de sexualidade sem se importar com os danos que isso causa ao desenvolvimento e integridade dessas crianças e ficar impunes se puderem pagar por isso. Isso acontece por diversos fatores que se relacionam, mas certamente a obtenção de lucro com a exploração sexual infantil contribui intensamente para a existência e manutenção dessa realidade degradante.
Carolina Padilha (*1), coordenadora de Programas da Childhood Brasil do Instituto WFC,  aponta que a idade média das crianças que se prostituem  nas estradas brasileiras é de 12 anos. Mas há casos em que meninos e meninas começam com 8 anos . É notório que o Brasil é rota para turismo sexual  e que o número de crianças sendo exploradas sexualmente por pessoas que entram no país com essa finalidade é alto e que a prática de exploração sexual infantil ocorre em nosso país apesar de constituir prática ilegal e socialmente repudiada. Ricardo Breier(*2)  , afirma que  “Muitos pedófilos buscam zonas de terceiro mundo, onde a fiscalização das autoridades é precária e, em muitos casos, corrupta, o que viabiliza a exploração sexual infantil turística. Segundo dados da Organização Mundial do Turismo (OMT), já no ano de 1996 estimava a cifra de 3.552.000 turistas sexuais, com um único objetivo de manter relações sexuais com crianças e/ou adolescentes. Segundo especialistas, não basta perseguir o turista sexual, é necessária a consciência social para uma efetiva proteção às vítimas desta prática reprovável.”
Outra forma de exploração sexual infantil que tem se tornado epidêmica no mundo todo diz respeito a podução e venda de pornografia infantil através da internet, Franciny Roberta Dos Santos(* 3) aponta que : “Tendo como principal meio de divulgação a Internet, a pedofilia movimenta milhões de dólares por ano e expõe milhares de crianças indefesas a abusos que nem mesmo adultos suportariam. Para se ter uma idéia, hoje existem Clubes de Pedofilia! Esses ‘Clubes’ servem para associar pedófilos pelo mundo; onde estes podem adquirir fotos ou vídeos contendo pornografia infantil ou, pior, contratar serviços de exploradores sexuais, fazer turismo sexual ou mesmo efetivar o tráfico de menores e aliciá-los para práticas e abusos sexuais. Este circo de horrores é responsável pelo desaparecimento de crianças no mundo inteiro.”
Comecei esse texto citando o pequeno trecho da obra de Eduardo Galeano por que percebo que embora a maioria das pessoas tenham o entendimento que a violência e exploração sexual infantil seja algo cruel e degradante poucas são as pessoas que fazem algo efetivo para que a realidade de dor e sofrimento a que muitas meninas e meninos estão vivenciando deixe de existir.  Nascer e crescer em uma sociedade que promove o sistema de desvinculo que Galeano se refere tem nos tornados seres desprovidos de empatia pela dor do outro. Somos moldados a não enxergar aquilo que não nos atinge diretamente, ensinados por diversos meios a crer que a miséria alheia acontece por mérito do miserável e não pela forma desigual e injusta que utilizamos os recursos, treinados para sempre encontrar um argumento que culpabilize a vítima(*4) e não o sistema injusto em que todos estamos inseridos, adestrados a aceitar que o lucro permita atrocidades ...
No entanto, não há crença ou adestramento que mude o fato de que a diferença entre a criança que tem seu corpo e sua integridade violados para gerar ganhos financeiros a pessoas que se dispõem a explorá-las e a criança da sua família, que você certamente ama e protege, é uma construção social e por isso pode e deve ser desconstruída. Devemos retirar a venda que nos impede de ver no outro alguém como nós, na criança violentada que estampa o noticiário policial uma criança como nossos filhos, entendermos que para alterar a realidade de violência e exploração sexual que é imposta a tantos temos que nos importar e agir.





veja mais em:
(*2)
(*3)
 REPRESSÃO À PRÁTICA DA PEDOFILIA NA INTERNET-FRANCINY ROBERTA DOS SANTOS
(*4)







Causas da exploração sexual






Transcrito da obra “Guia de referência – Construindo uma cultura de prevenção à violência sexual “ (*1) , o texto que segue expõe de forma sucinta os motivos que contribuem para a existência e manutenção de  exploração sexual infanto-juvenil em nosso país. Nós estamos disponibilizando essas informações aqui no intuito de promover uma reflexão a respeito desse tema, ao se pensar as causa de tais práticas, frequentemente o fazemos de forma superficial a partir da visão limitada do aspecto financeiro. É incontestável que o fator econômico é determinante nessa realidade, no entanto, é necessário para a compreensão ampla dessa questão estendermos nossa visão para as engrenagens sócio- culturais que a constroem. Entender  que milhares de meninas e meninos estão sendo explorados sexualmente cada vez mais cedo simplesmente por que alguém lucra com isso sem pensar em como o fato de estarmos inseridos em uma sociedade de consumo que transforma a aquisição de bens de consumo e serviços como único meio para o bem estar do individuo dispondo o poder aquisitivo acima de qualquer princípio   influencia a existência dessa realidade, não nos levará a produzir as mudanças necessárias ao enfrentamento desse mal.




Causas da exploração sexual

A maior parte das explicações das causas da exploração sexual é, na realidade, uma tentativa de encontrar respostas quanto aos motivos de certas pessoas para se engajarem nesse tipo de atividade. Considerando apenas esse aspecto, teremos uma resposta parcial, e, mais uma vez, o assunto ficará centrado no indivíduo que oferece os serviços sexuais. Vários segmentos sociais costumavam conceituar a prostituição como um desvio de caráter ou personalidade, mas hoje vários estudos concordam com a leitura de que tal fenômeno é provocado por um conjunto de fatores sociais, econômicos, culturais, entre outros. É importante destacar que existem divergências em relação aos fatores mais determinantes. Nos países latino-americanos, constata-se uma tendência  de considerar esse envolvimento como sendo resultante de pobreza. Nos países desenvolvidos, como sendo resultante de opção.9
Os pontos de vista também diferem quando se trata de exploração sexual infanto-juvenil ou prostituição adulta. Assim, enquanto para muitas mulheres adultas a prostituição é uma opção profissional, ainda que mobilizada pela necessidade de sobrevivência, os meninos e meninas são conduzidos à prática da
prostituição pela pobreza.
Aqui queremos contribuir para desconstruir essa associação mecânica entre pobreza e exploração sexual infanto-juvenil. Esse argumento não resiste a uma simples pergunta: “Por que um imenso contingente de meninas pobres não se envolve em prostituição e encontra outras formas de sobreviver, sem se submeter
docilmente à sua utilização econômica?” (SANTOS, B. R. dos, 1996). Por outro lado, o caso de meninas e meninos de classe média que se envolvem em prostituição por razões de consumo de drogas ou outros artigos de consumo parece também contrariar a pobreza como fator determinante exclusivo.
Desconstruir a associação mecânica entre pobreza e mercado sexual não significa negar os fatores econômicos que “determinam” de certa maneira a existência desse mercado. Essa questão deve ser abordada na sua complexidade, pois se trata de um conjunto de aspectos que, combinados em dada família, cidade ou país, provocam ou conduzem determinadas pessoas para esse tipo de atividade.


Conflitos culturais e outras situações familiares

Existem casos de adolescentes que são estimulados ou mesmo forçados pelos familiares a oferecer serviços sexuais. No entanto, sem estatísticas disponíveis, baseando-se somente na experiência, sabe-se que o número de casos é bastante baixo. Uma significativa porcentagem de adolescentes participantes do mercado sexual vive situações conflituosas com familiares e muitos deles moram fora de casa. Conflitos familiares não resolvidos, violência doméstica ou negligência dos pais e familiares e choque de valores levam muitos pais a excluírem e mesmo expulsarem seus filhos de casa.

Estratégia de sobrevivência e inclusão na “sociedade”
(de consumo)

Crianças e adolescentes foram levados a viver em uma condição de dependência dos pais ou do Estado. Eles não podem trabalhar até a idade de 16 anos ou assinar atos civis que garantam morar e viver legalmente na sociedade. Quando as crianças e adolescentes não podem ou não querem viver com a família ou, ainda, a família não tem condições de alimentar suas necessidades, a venda de sexo pode se transformar numa opção ilícita de sobrevivência para a realização dos seus desejos de consumo. Assim, o trabalho sexual se transforma em uma maneira de ganhar autonomia em relação à família, adquirir bens e serviços que lhes confiram status social ou simplesmente adquirir drogas.

A omissão ou insuficiência das políticas sociais públicas

Isso também pode levar os adolescentes a se engajar no mercado do sexo. Por exemplo, a falta ou insuficiência de programas de orientação sociofamiliar ou de apoio financeiro às famílias que vivem em situação de risco. A falta de empregos dignos para jovens, a baixa qualidade dos serviços existentes para
adolescentes que têm de viver em lares substitutos ou sob a custódia do governo, a impossibilidade de suprir crianças e adolescentes com o chamado supérfluo ou mesmo a violência institucional também influenciam essa opção.

Os motivos das redes de exploradores

A exploração comercial de crianças e adolescentes tornou-se um negócio complexo e lucrativo. Os diversos segmentos sociais que compõem as redes de exploração, muitas vezes nem tão clandestinas como se poderia supor, são motoristas de táxi, donos e funcionários de hotéis, motéis e quartos subalugados, gigolôs e cafetinas, vendedores de roupas e de cosméticos, traficantes, doleiros e policiais corruptos.

A omissão ou insuficiência da legislação

Permeando todas as partes envolvidas está a dificuldade de normatizar e de fiscalizar o cumprimento da legislação e sua aplicação por parte das autoridades e da população em geral. Esse conjunto de fatores leva à impunidade daqueles que abusam ou exploram sexualmente as crianças e os adolescentes.Ela faz com que perdure a violação sistemática aos direitos da criança e do adolescente.
Os valores éticos e as concepções sobre a infância estão na base do  comportamento social em relação à exploração sexual. Considerando isso, é importante afirmar que muitas crianças ou adolescentes em situação de risco social não aceitam o trabalho sexual como opção de sobrevivência, muitos clientes de prostituição não aceitam ou não desejam ter relação com crianças e adolescentes, assim como a postura de legisladores e de governantes é determinante na priorização de ações e investimentos no enfrentamento da exploração sexual.



*1- Guia de referência - Construindo uma Cultura de Prevenção à Violência Sexual / Childhood Brasil (Instituto WCF-Brasil)



Vítima de pedofilia relata 10 anos de abusos em livro.



Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a pedofilia está entre os diversos transtornos de preferência sexual. Os pedófilos são pessoas adultas, homens e mulheres, que sentem desejo por crianças que geralmente não atingiram a puberdade ou estão no início da vida adolescente.

Considerada por algumas pessoas como uma doença e por outros como perversão sexual, a pedofilia está cada vez mais presente nos noticiários, nas ruas e principalmente, na internet.

Segundo psicólogos especialistas em agressão infantil de Michigan, nos Estados Unidos, cerca de 80% dos casos de abuso sexual de crianças acontecem dentro da própria casa: pais, padrastos e tios estão na lista dos principais agressores.
A escritora e socióloga Ângela Chaves (49) lançou o livro "Lágrimas de Silêncio" para contar a história de terror que viveu dos sete aos 17 anos, quando foi abusada pelo próprio pai e pelo irmão mais velho. Ela conta que o pai era violento e a fazia ingerir bebidas alcoólicas até ficar embriagada para depois ter relações sexuais com ele.

Para piorar, aos 15 anos, Ângela teve uma filha do pai e, aos 17, outra do irmão. Sem saber o que fazer e desolada com a situação que vivia, a escritora fugiu de casa e acabou se prostituindo para obter o próprio sustento. A autora acredita que os estragos causados pela pedofilia são permanentes, mesmo fazendo tratamento psiquiátrico há oito anos.

Grande parte das crianças e adolescentes que são vítimas da pedofilia sofrem em silêncio. Por isso, é importante prestar atenção no comportamento dos filhos. O psicólogo clínico, terapeuta sexual e professor da Faculdade Santa Marcelina, Breno Rosostolato, conta que a melhor maneira de proteger os filhos é a prevenção. "Oriente e estabeleça um espaço de diálogo entre você e seus filhos e participe ativamente na rotina deles: pergunte como foi na escola, o que aconteceu durante o dia, as brincadeiras feitas etc."

Mesmo com a vida agitada que muitos pais levam, saindo cedo de casa e chegando só no início da noite, é importante tirar um tempinho para acompanhar de perto os filhos na internet. Breno esclarece: "A internet é o local onde acontecem os maiores casos de encontros e crimes de pedofilia. A participação dos pais na vida virtual dos filhos é muito importante, pois as crianças e os adolescentes podem acessar qualquer site e conteúdo. Procure saber o que estão acessando: chats, redes sociais, conteúdo adulto."

Os pais devem fazer esse acompanhamento, mas sem invadir o espaço do adolescente. "Pergunte quem são as pessoas com quem ele conversa, o que ele anda lendo e acessando. E coloque limites em relação ao horário, virar a madrugada na internet não é bom", aconselha. "Existem mecanismos de prevenção que os pais podem adotar: bloquear determinados sites para não serem acessados, assim como programações de TV", completa.

Já no caso das crianças, o cuidado deve ser maior. "Elas devem brincar e aproveitar a infância. Caso acessem a internet, estipule um limite de no máximo uma ou duas horas, mas fique ao lado para acompanhar e orientar", diz o psicólogo.

Breno ainda diz: "É imprescindível a criança ou o adolescente abusado ter acompanhamento com um psicólogo. O trauma para a criança é algo eterno e que pode durar eternamente nas lembranças. O ato sexual ou a tentativa é uma ruptura para a criança que acaba criando um universo antecipadamente, por isso é tão difícil."

No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 241, estabelece a pena de detenção de um a quatro anos e multa para quem fotografar ou publicar cena de sexo explícito ou pornografia envolvendo criança e adolescente.

Denuncie:

A denúncia pode ser feita através de:

• Disque 100 - Disque Denúncia Nacional de Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes.

• Polícia: em caso de flagrante, a polícia deve ser acionada imediatamente.

• Conselho tutelar: se for confirmado o fato, o Conselho deve levar a situação ao conhecimento do Ministério Público.

• Varas da Infância e Juventude: em municípios onde não há Conselho Tutelar, a Vara da Infância e Juventude pode receber as denúncias.

• Delegacias de Proteção à Criança e ao Adolescente

• Delegacias da Mulher 

Para saber mais sobre o assunto, leia também:

• Educação sexual para os pequenos: Livro infantil aborda abuso sexual de forma simples e objetiva

Pela Internet:



Polícia Federal (no caso de crimes contra os direitos humanos via internet),  também pelo e-mail crime.internet@dpf.gov.br

Fonte: vilamulher.terra