Denuncie, mas não pare por aí !

07:32 Angela Fakir 0 Comments


A realidade brasileira no tocante a exploração  e violência sexual de crianças e adolescentes  está inserida em um contexto ambíguo . Ao mesmo tempo em que a fala das pessoas expressam indignação e desprezo a atos de violência sexual contra crianças e adolescentes,  o silêncio e a falta de ações que promovam um enfrentamento a essa  realidade nociva sinaliza que nossa sociedade tem sido permissiva ao tolerar o uso e a mercantilização da sexualidade e da exploração da infância em seu cotidiano.
Isso,  em parte,  ocorre devido ao fato de existirem campanhas em grandes mídias que apresentam essa violência como um mal e estimulem a denúncia, mas omitem o fato de que o estado representado por suas instituições não dão conta de combater efetivamente essa realidade.  Antes sim, as falhas que o estado apresenta no cumprimento de suas funções básicas como proporcionar saúde, educação e segurança contribuem diretamente para a construção e manutenção desse quadro.
LIBÓRIO e CASTRO, no artigo “Abuso, exploração sexual e pedofilia: as intrincadas relações entre os conceitos e o enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes”*, apontam para a necessidade de que uma mobilização social aconteça no intuito de ir muito além da simples denúncia :

“. A mobilização social contra a violência sexual enfatiza a importância de os setores
governamentais (nas instâncias municipal, estadual e federal) se comprometerem com a elaboração
de políticas públicas eficientes que permitam a efetivação dos direitos sociais de toda a população.
Entretanto existem sérios riscos de essas proposições se esvaziarem dados os paradigmas neoliberais.
Esta constatação reforça a necessidade de que todos os envolvidos no enfrentamento dessa problemática
precisam ter consciência de que suas lutas não devem se esvaecer mediante imposições decorrentes da
organização sociopolítica atual. Suas contribuições nas discussões sobre formas de compreender as
contradições presentes no interior da sociedade que perpetuam a violência sexual contra crianças e
adolescentes são imprescindíveis.”

Porquanto que a denúncia em um sistema falho e corrupto se torna infrutífera se não estiver acompanhada de uma maior participação social. Tanto para promover  a construção de um entendimento sobre como essa violência se dá e quais as formas de evita-la, quanto no exercício de cidadania de oferecer resistência  aos  mecanismos  mercadológicos que geram exploração sexual de crianças em diversos meios e de fiscalizar e cobrar as ações do estado e seus agentes  para combater a pobreza e a impunidade, fatores que notoriamente contribuem para a existência  de crimes de pedofilia e exploração sexual de crianças e adolescentes.



*Abuso, exploração sexual e pedofilia: as intrincadas
relações entre os conceitos e o enfrentamento da
violência sexual contra crianças e adolescentes
Renata Maria Coimbra Libório 1
Bernardo Monteiro de Castro 2

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