Denuncie, mas não pare por aí !
A realidade brasileira no tocante a exploração e violência sexual de crianças e adolescentes está inserida em um contexto ambíguo . Ao mesmo tempo em que a fala das pessoas expressam indignação e desprezo a atos de violência sexual contra crianças e adolescentes, o silêncio e a falta de ações que promovam um enfrentamento a essa realidade nociva sinaliza que nossa sociedade tem sido permissiva ao tolerar o uso e a mercantilização da sexualidade e da exploração da infância em seu cotidiano.
Isso, em parte, ocorre devido ao fato de existirem campanhas
em grandes mídias que apresentam essa violência como um mal e estimulem a
denúncia, mas omitem o fato de que o estado representado por suas instituições
não dão conta de combater efetivamente essa realidade. Antes sim, as falhas que o estado apresenta no
cumprimento de suas funções básicas como proporcionar saúde, educação e segurança
contribuem diretamente para a construção e manutenção desse quadro.
LIBÓRIO e CASTRO, no artigo “Abuso, exploração sexual e
pedofilia: as intrincadas relações entre os conceitos e o enfrentamento da
violência sexual contra crianças e adolescentes”*, apontam para a necessidade de
que uma mobilização social aconteça no intuito de ir muito além da simples
denúncia :
“.
A mobilização social contra a violência
sexual enfatiza a importância de os setores
governamentais (nas instâncias
municipal, estadual e federal) se comprometerem com a elaboração
de políticas públicas eficientes que
permitam a efetivação dos direitos sociais de toda a população.
Entretanto existem sérios riscos de
essas proposições se esvaziarem dados os paradigmas neoliberais.
Esta constatação reforça a necessidade
de que todos os envolvidos no enfrentamento dessa problemática
precisam ter consciência de que suas
lutas não devem se esvaecer mediante imposições decorrentes da
organização sociopolítica atual. Suas
contribuições nas discussões sobre formas de compreender as
contradições presentes no interior da
sociedade que perpetuam a violência sexual contra crianças e
adolescentes são imprescindíveis.”
Porquanto que a denúncia em um sistema falho e corrupto se
torna infrutífera se não estiver acompanhada de uma maior participação social.
Tanto para promover a construção de um
entendimento sobre como essa violência se dá e quais as formas de evita-la,
quanto no exercício de cidadania de oferecer resistência aos mecanismos
mercadológicos que geram exploração
sexual de crianças em diversos meios e de fiscalizar e cobrar as ações do
estado e seus agentes para combater a
pobreza e a impunidade, fatores que notoriamente contribuem para a existência de crimes de pedofilia e exploração sexual de
crianças e adolescentes.
*Abuso, exploração sexual e pedofilia: as intrincadas
relações entre os conceitos e o enfrentamento da
violência sexual contra crianças e adolescentes
Renata Maria Coimbra Libório 1
Bernardo
Monteiro de Castro 2
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