Crianças podem demorar a compreender que são vítimas de abuso sexual

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A ginecologista e médica legista do Instituto Médico-Legal de Belo Horizonte, Maria Flávia Brandão, revela que há casos de vítimas de abuso sexual no ambiente familiar desde a infância que só se dão conta do crime na adolescência. “Como elas começam a ser abusadas desde os 2 ou 3 anos de idade, elas acabam achando que é natural ter relação sexual com o pai ou o padrasto, por exemplo. Quando ela toma consciência que aquilo é um erro, surge o trauma”, diz. 

Outro caso lembrado pela médica é de três irmãos, abusados sistematicamente pelo próprio pai. “O mais velho, que tinha aproximadamente 9 anos, só se deu conta da violência que sofria quando viu o pai abusar pela primeira vez do caçula, que tinha em torno de 2 anos”, conta. Ao longo de 8 anos lidando diretamente com este tipo de violência, a médica cita o caso que mais lhe impressionou. “Uma menina, na época com 16 anos, era abusada pelo padrasto há muitos anos, com a conivência da própria mãe. Ela chegava a ser obrigada a fazer sexo com amigos do padrasto. Um dia ela fugiu de casa e foi acolhida por outra família que denunciou o caso. O agressor acabou assassinando o pai da menina, cumprindo a ameaça que a fazia manter as relações com ele. Isso me impressionou muito, porque este trauma nunca vai se apagar da memória dela”, lamenta. 

Na psicanálise, o corpo é entendido como o núcleo mais básico da identificação do indivíduo. Por isso, sobretudo na infância e adolescência, mesmo que o abuso sexual se limite a carícias, sem que haja conjunção carnal, trata-se de violência. “O grande traumatismo é quando essa criança ou adolescente percebe que aquelas brincadeiras eróticas vão muito além de meras brincadeiras e passam a invadir a intimidade delas”, esclarece a pós-doutora em psicologia clínica, Cassandra França. O abuso sexual deixa sequelas visíveis, segundo França. Entre elas estão a perda da capacidade de brincar, a falta de interesse pelos estudos, a perda de controle sobre o ato de urinar, sobretudo uma desconfiança muito grande pelo adulto. “Além de uma tristeza profunda, por causa do silêncio ao qual ela é imposta. A essas vítimas é imposto, pelo agressor, um pacto de silêncio. Para não revelar o abuso, ela bloqueia o próprio pensamento. Daí surge a apatia”, ressalta. França destaca que uma criança carente é ainda mais vulnerável a ser vítima de abuso sexual. Isso porque, na maioria das vezes, o abusador é uma pessoa próxima a ela. “Os pais têm que estar muito próximos da criança, estabelecendo uma relação lúdica e carinhosa. Devem, sobretudo, estar atentos a ela”, diz.

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