Respeitável

05:45 Angela Fakir 0 Comments


A pedofilia existe, infelizmente é uma realidade, portanto deve-se deixar de lado o tabu social, não mais tratar a pedofilia como mito e passar a discuti-la abertamente, pois a vergonha, o medo e o silêncio são os maiores perpetuadores da sua prática.”  (REPRESSÃO À PRÁTICA DA PEDOFILIA NA INTERNET - FRANCINY ROBERTA DOS SANTOS)

Ele era um Senhor respeitável. Um pai de família trabalhador, religioso, gentil. Seu riso era fácil, sua paciência com as crianças era sempre presente. Qualquer um que o visse dando atenção e brincando com elas o avaliaria como uma boa influência para os pequenos.
Qualquer um, menos as meninas de sua numerosa família. Essas sabiam quem realmente ele era.  Elas foram envolvidas em seus jogos nocivos, muitas de início receberam com alegria inocente o carinho e a atenção recebida. Eram mesmo ensinadas a dedicar-lhe respeito e afeto desde que nasciam, confiavam nele e demoravam a perceber que seu toque era inadequado. Quando alcançavam essa percepção ele mudava, deixava de ser sedutor  para assumir uma postura agressiva.
Sua fala ficava repleta de ofensas e ameaças, e as meninas passavam a ouvir dele quando tentavam recusar o contato físico que lhes causava dor e confusão que eram putas sujas, vagabundas, que ninguém se importava com elas, que ninguém nem mesmo seus pais  iriam acreditar nelas caso contassem o que ele fazia, que eram feias e que por isso tinham que ser boazinhas e obedecer, que todos sabiam o quanto elas eram imundas e mentirosas, que o único que as amava era ele... Elas eram pequenas demais para escapar, os corpos e a mente em formação ainda não haviam  desenvolvido a capacidade de compreender o absurdo daquelas afirmações atrozes e mentirosas. Por isso acreditavam por muito tempo na voz do agressor e se submetiam caladas, aprendendo a esconder de todos as marcas deixadas em seus corpos e as chagas feitas em suas almas.
A medida em que cresciam o entendimento de que a situação era errada e degradante tornava-se cada vez mais presente.  Trazia consigo a vergonha das situações vivenciadas, o medo de serem desacreditadas caso contassem,   o sentimento de cumplicidade com  as ações de seu agressor devido a ausência de denúncia por parte delas. Tudo levando-as a pensar que o silêncio solitário seria a única opção.
No entanto, o sofrimento dessas meninas _  filhas, netas e sobrinhas desse Senhor aparentemente tão respeitável_ e de todas as crianças que vivenciaram esse cotidiano de dor poderia ter sido evitado se houvesse um entendimento sobre como em muitos casos esse tipo de violência ocorre. Se os pais, educadores e todas as pessoas que convivem com a criança soubessem vencer o tabu e o pacto social de silêncio que envolve as questões relacionadas a sexualidade infantil para fazer a criança identificar desde cedo o comportamento inadequado do agressor, certamente muitos casos de violência sexual infantil poderiam não acontecer.
O pedófilo que comete crimes de violência sexual contra crianças faz uso de muitas estratégias para manter suas vítimas caladas o que possibilita que seus atos se repitam por muitos anos sem que seja delatado ou descoberto. Uma dessas estratégias presente principalmente em casos em que o agressor é alguém da própria família da criança é estabelecer com ela sentimentos de cumplicidade e culpa que diminuem a chance da vítima se defender da realidade de molestamentos e de negar os pedidos ou ordens do criminoso. Portanto, é de fundamental importância a intervenção de um terceiro, para detectar  a violência e efetuar a denúncia, impedindo assim que essa continue se repetindo protegidas por um manto de vergonha,  segredo e ausência de informação.

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