Respeitável
“A pedofilia existe, infelizmente é uma realidade, portanto deve-se deixar de lado o tabu social, não mais tratar a pedofilia como mito e passar a discuti-la abertamente, pois a vergonha, o medo e o silêncio são os maiores perpetuadores da sua prática.” (REPRESSÃO À PRÁTICA DA PEDOFILIA NA INTERNET - FRANCINY ROBERTA DOS SANTOS)
Ele
era um Senhor respeitável. Um pai de família trabalhador, religioso, gentil. Seu
riso era fácil, sua paciência com as crianças era sempre presente. Qualquer um
que o visse dando atenção e brincando com elas o avaliaria como uma boa
influência para os pequenos.
Qualquer
um, menos as meninas de sua numerosa família. Essas sabiam quem realmente ele
era. Elas foram envolvidas em seus jogos
nocivos, muitas de início receberam com alegria inocente o carinho e a atenção
recebida. Eram mesmo ensinadas a dedicar-lhe respeito e afeto desde que
nasciam, confiavam nele e demoravam a perceber que seu toque era inadequado.
Quando alcançavam essa percepção ele mudava, deixava de ser sedutor para assumir uma postura agressiva.
Sua
fala ficava repleta de ofensas e ameaças, e as meninas passavam a ouvir dele
quando tentavam recusar o contato físico que lhes causava dor e confusão que
eram putas sujas, vagabundas, que ninguém se importava com elas, que ninguém
nem mesmo seus pais iriam acreditar
nelas caso contassem o que ele fazia, que eram feias e que por isso tinham que
ser boazinhas e obedecer, que todos sabiam o quanto elas eram imundas e
mentirosas, que o único que as amava era ele... Elas eram pequenas demais para
escapar, os corpos e a mente em formação ainda não haviam desenvolvido a capacidade de compreender o
absurdo daquelas afirmações atrozes e mentirosas. Por isso acreditavam por
muito tempo na voz do agressor e se submetiam caladas, aprendendo a esconder de
todos as marcas deixadas em seus corpos e as chagas feitas em suas almas.
A
medida em que cresciam o entendimento de que a situação era errada e degradante
tornava-se cada vez mais presente. Trazia
consigo a vergonha das situações vivenciadas, o medo de serem desacreditadas
caso contassem, o sentimento de cumplicidade com as ações de seu agressor devido a ausência de
denúncia por parte delas. Tudo levando-as a pensar que o silêncio solitário
seria a única opção.
No
entanto, o sofrimento dessas meninas _ filhas, netas e sobrinhas desse Senhor
aparentemente tão respeitável_ e de todas as crianças que vivenciaram esse
cotidiano de dor poderia ter sido evitado se houvesse um entendimento sobre
como em muitos casos esse tipo de violência ocorre. Se os pais, educadores e
todas as pessoas que convivem com a criança soubessem vencer o tabu e o pacto
social de silêncio que envolve as questões relacionadas a sexualidade infantil
para fazer a criança identificar desde cedo o comportamento inadequado do
agressor, certamente muitos casos de violência sexual infantil poderiam não
acontecer.
O
pedófilo que comete crimes de violência sexual contra crianças faz uso de
muitas estratégias para manter suas vítimas caladas o que possibilita que seus
atos se repitam por muitos anos sem que seja delatado ou descoberto. Uma dessas
estratégias presente principalmente em casos em que o agressor é alguém da
própria família da criança é estabelecer com ela sentimentos de cumplicidade e
culpa que diminuem a chance da vítima se defender da realidade de molestamentos
e de negar os pedidos ou ordens do criminoso. Portanto, é de fundamental
importância a intervenção de um terceiro, para detectar a violência e efetuar a denúncia, impedindo
assim que essa continue se repetindo protegidas por um manto de vergonha, segredo e ausência de informação.
0 comentários :